segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Nas sombras da ponte



NAS SOMBRAS DA PONTE
            O vento frio cortava sua pele como navalha naquela madrugada de junho. Karine caminhava a passos lentos pelo beiral da ponte que ligava as cidades Colinas da Primavera e Recanto Bonito. Aproximou-se, hesitante, da borda. Olhou novamente aquelas bochechas rosadas daquele anjinho que, indiferente, dormia sem se perturbar com a lágrima que caiu sobre seu aveludado rosto.
            Karine era uma linda morena de pele achocolatada, que em seus vinte e oito anos aparentava dezessete. Seus olhos castanhos claros contrastavam agressivamente com seus cabelos de ébano e seus lábios de carmim que acentuavam as salientes maçãs de seu rosto que exalavam sua beleza e sensualidade juvenil.
            Waldir surgiu no momento exato em que Karine mais necessitava de amparo, carinho, atenção e braços que pudessem lhe fazer sentir-se ancorada em um porto seguro. Waldir era um homem de 32 anos, olhos negros e brilhantes, sorriso atraente e barba por fazer que fez brilhar os olhos e inundou de fantasias os pensamentos de Karine assim que o conheceu.
            De família simples, Karine era a caçula dos quatro irmãos que se acotovelavam em um barracão de três cômodos com vazamentos na pia, colchões de espuma sem revestimento, espalhados pelo chão, cortina de chitão separando os ambientes, uma geladeira que mais roncava do que gelava, fogão de quatro bocas das quais somente duas funcionavam, sofá com encosto e assentos rasgados e na despensa, farinha de trigo, maisena, arroz e macarrão.
            Karine vestiu seu melhor vestido, um tubinho curto, de malha preta, acima do joelho, que expunha suas coxas grossas e perfeitas, que ganhara de presente na última faxina que fizera. Calçou suas sandálias de couro surradas, descascadas no bico e faltando algumas lantejoulas que as decoravam. O batom vermelho acentuava de maneira obscena aqueles encantadores lábios e o rímel exagerado realçava ainda mais aqueles olhos de luar de agosto. Guardou no sutiã, juntamente, o bilhete amarrotado contendo o endereço da entrevista de emprego e o dinheiro da passagem de ônibus.
            Waldir era gerente geral de uma grande empresa do ramo de transporte de cargas e gostava de entrevistar os candidatos às diversas vagas que ocasionalmente sua empresa oferecia. Naquele dia, entrevistaria as candidatas a copeira que trabalharia no andar de sua sala, preparando e servindo café aos diversos clientes que ali se reuniam com Waldir semanalmente.
            Karine desceu apressada do ônibus, ajeitou seus cabelos, retocou o batom e dirigiu-se até o prédio onde seria entrevistada. Ainda no elevador, olhou-se no espelho, checando suas costas, se sua calcinha estava marcando seu vestido e desceu no oitavo andar espalhando pelo corredor seu perfume de aroma doce comprado de um camelô no terminal rodoviário.
            Quando Waldir solicitou que entrasse a próxima candidata, não conseguiu fechar a boca enquanto Karine se aproximava de olhos fixos nos seus, passos firmes cada um diante do outro como aprendera vendo desfiles de moda na televisão. Seus cabelos soltos, longos, baloiçavam como as ondas do mar qual pêndulo nas mãos de um hipnotizador que sugeria ao incauto coração de Waldir que se apressasse em suas batidas até então comportadas.
            Naquele final de dia houve comemoração com direito a pipoca, guaraná e os deliciosos bolinhos de chuva para celebrar a contratação de Karine que receberia um salário mínimo, vale-transporte, ticket refeição e uma gratificação de cinco por cento caso não se atrase nenhum dia a cada mês.
            Dois anos se passaram céleres e Junho novamente chegou trazendo seus dias de brisas frescas e noites congelantes que Karine facilmente contornava nos braços de Waldir. Ainda estava presente em suas lembranças quando dois meses após sua contratação viu-se refém dos galanteios de Waldir. Naquela noite de sexta-feira, Waldir, já impotente contra os ímpetos de desejo e paixão, a convidara para que ficasse um pouco mais além do expediente pois tinha alguns a tratar com Karine.
            Waldir fechou as persianas de sua sala que faziam vista à rua e quando Karine bateu à porta, apressou-se para abri-la. Karine, sem suspeitar das intenções de Waldir ainda acreditava que fora chamada para algum assunto de cunho profissional, ideia essa que rapidamente colocou em xeque quando gentilmente Waldir a cumprimentou segurando e beijando sua mão. Karine sempre observava Waldir dissimuladamente e sem dúvida não poderia negar que também sentia uma certa atração por aquele homem sempre gentil e educado.
            A conversa, ali mesmo no escritório, não tardou na companhia de um bom vinho que Waldir havia precavidamente comprado. Quando Karine tentou recobrar o domínio da situação, seus braços já envolviam o pescoço de Waldir enquanto suas mãos a seguravam firmes pelo quadril, puxando-a de encontro a seu corpo e beijou aqueles lábios agressivamente macios que em momento algum se debateram ao contrário.
            Os documentos sobre a mesa de trabalho de Waldir, seu notebook e os demais utensílios de escritório voaram pela sala caindo silenciosamente sobre o tapete, contrastando com os sussurros abafados de Karine quando Waldir a jogou sobre a mesa e arrancou os botões de sua saia de uniforme para que suas mãos subissem lentamente levando consigo retalhos da meia-calça enquanto suas unhas delicadamente lhe arranhavam a pele, sem dor e sua boca vertiginosamente mergulhava naquele colo entre aqueles firmes e volumosos seios.
            Os encontros se repetiram por várias vezes também no palco do apartamento de Waldir.
            Setembro chegou trazendo cores e perfumes e um brilho especial aos olhos de Karine. Coração disparado, foi até a farmácia naquela tarde de domingo e comprou um teste de gravidez que, mais tarde, acusara duas linhas azuis. Karine saiu correndo da farmácia e foi direto ao apartamento de Waldir contar-lhe a boa nova. Waldir abriu a porta, sem entender o motivo de tanta euforia de Karine quando a mesma pulou em seus braços e confessou aos seus ouvidos:
- Meu amor, você será papai!! – disse, engasgando-se em soluços.
- O que? – assustou-se Waldir – Você ficou louca? Não havia me dito que estava usando anticoncepcional ?
- Não sei o que houve meu amor, eu juro! Comecei a sentir tonturas e náuseas e como “não veio” esse mês, resolvi fazer o teste
- Tudo bem Karine, vamos não se preocupe, vamos cuidar disso, eu conheço uma clínica de um médico amigo que pode cuidar discretamente dessa situação. Ninguém no escritório saberá que um dia você engravidou.
- Não! Waldir, não! Não podemos fazer isso, é nosso bebê, nosso filho, seu filho, não quero fazer isso.
- Isso então será problema seu Karine, eu não pretendo assumir nenhuma paternidade nem tampouco cuidar dessa criança. Não suporto crianças e além do mais, não somos casados nem temos compromisso sério. Se você quiser ser mãe, será por sua conta própria e terá que arcar com tudo sozinha.
            Waldir, dois meses após a notícia da paternidade, abandonou o emprego e mudou-se de cidade sem deixar rastros. Karine, mesmo grávida, foi demitida pelo novo gerente no mês seguinte e aconselhada a reclamar seus direitos na justiça.
            Sua família não a abandonou, porém, grávida, não conseguira emprego algum nos meses seguintes. Seus irmãos, todos desempregados. Karine, à noite, não sabia se os movimentos em seu ventre eram do bebê ou de fome. Conseguiu junto à assistente social de seu bairro, alguns pacotes de fraldas e um enxoval com alguns pares de roupas de recém-nascido.
            O vento frio cortava sua pele como navalha naquela madrugada de junho. Embrulhado em uma manta que ganhara de uma colega de quarto na maternidade pública, Karine contemplava seu desnutrido, minúsculo e indefeso rebento que nascera há alguns dias. Karine não era lactante e o alimentava com leite e maisena que ganhava de seus vizinhos, porém nem todos os dias. Augusto, como se chamaria se fosse registrado, mas Karine não poderia trazer ao mundo mais uma alma para somar à miséria com que vivia junto a sua família.
            As luzes da cidade pareciam cintilar como árvore de natal, distantes, perdidas no horizonte do rio que corria silenciosamente sob a ponte. Karine descobriu aquele rostinho rosado, mais uma vez, fazendo-o espreguiçar-se e balbuciar um choro que mais se assemelhava a uma súplica e novamente adormeceu, sem perceber o momento em que Karine o beijou suavemente na testa, apertou-o contra seu peito amargurado, e saltou na escuridão da noite, tocando a água no segundo seguinte em que sua quente lágrima caía sobre aquele rosto inocente.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

ACORDA DANIEL!







Acorda Daniel!

Aumente para 250  Joules –  gritou o médico, manipulando o desfibrilador
– e afastem-se.

     Olhos  castanhos,  reluzentes,  cabelos  lisos  e  negros,  sorriso  cativante,
educado  e  muito  amado  pelos  pais,  Daniel  teve  uma  infância  muito  pobre,
faltava-lhe até o básico, quiçá diversão.
     Daniel  nunca  frequentou  a  escola,  pois,  desde  cedo,  foi  auxiliar  o  pai,
catador de papel nas ruas da cidade baixa de Salvador. Acordavam às cinco da
manhã  e  só  retornavam  no  início  da  noite.  Comia  pão  com  mortadela
comprados com as gorjetas que recebia ou algum alimento que ganhava.
     -  Moço!  O  “sinhô”  pode  me  “dá”  uma  ajuda  pra  “comprá”  comida?
     Qualquer tanto que o “sinhô pudé” já ajuda.
     Daniel  cresceu  na  companhia  de  uma  irmã,  Mixele  Faifer  e  Bruci  Uilis
(assim registrados pelo pai). Pedro e Joana, pais de Daniel,  vieram do interior
do  Pernambuco  em  busca  de  oportunidades  na  cidade  de  Salvador,  Bahia.
Semianalfabetos, sonhavam em encontrar um trabalho que permitisse criar os
filhos  dignamente.  Joana  ganhava  uns  trocados  lavand o  roupas  e
esporadicamente  fazia  faxinas,  embora  bastante  raras  pois  não  tinha
referências. Com muito suor, conseguiam comprar sal, macarrão e extrato de
tomate  para  as  refeições  diárias  preparadas  num  fogareiro  improvisado  com
tijolos,  gravetos  e  utensílios  usados  que  receberam  por  caridade  de  alguém.
     Moravam  em  um  barraco  feito  de  papelão  e  tábuas,  dispensadas  pela
construção civil, em um aterro de Salvador, próximo a um lixão. 
Curioso  e  investigativo,  Daniel  queria  ser  jornalista.  Assistia  aos
noticiários na TV, em um dos bares próximos, e dizia ao seu pai que um dia
seria igual ao Cid Moreira.
     O  monitor  de  sinais  vitais  daquela  unidade  de  terapia  intensiva,
intercalava sons contínuos com “bips” e no visor uma linha sentenciava Daniel
enquanto os relevos verticais o absolviam.
-  Aumente para  300  Joules!  Não  vamos  perdê-lo!  –  bradava  o  médico
enquanto  sua  equipe  ministrava  concomitantemente,  medicamentos  via
endovenosa. A cada descarga, a equipe ansiosa e dedicada, fixava os olhos no
monitor esperando pela reação de Daniel.
     Os  pais  de  Daniel,  religiosos,  embora  não praticantes,  sempre fizeram
questão  de  dar  a  seus  filhos  educação  Cristã,  seja  em  casa  ou  nos  templos
que  frequentavam  assim  como  exaltavam  as  virtudes  e  moral  elevada
demonstrando, também, através dos bons exemplos.
     Daniel queria estudar, tinha fome de sabedoria. Guardava todos os livros
que  encontrava  nos  lixos  e  quando  podia,  olhava  as  gravuras,  embora  não
soubesse  ler.  Sua  mãe  o  levava  com  ela,  nas  faxinas,  quando  Daniel  ficava
doente e em um desses dias, levou-o à casa da Sra. Heloísa, uma jovem viúva
de 28 anos, sem filhos, que sofrera um acidente no qual seu marido, coronel do
exército  Brasileiro,  veio  a  falecer,  deixando  uma  generosa  pensão.  Heloísa
ficou  com  graves  sequelas  que  dificultavam  exercer  sua  profissão  de
professora. Como a pensão era mais que suficiente para manter seu padrão de
vida,  optou  por  abraçar  trabalhos  filantrópicos  alfabetizando  idosos  e
participando de atividades sociais em seu bairro.
     - Daniel, o que você quer ser quando crescer? – Perguntou Heloísa.
     -  Quero ser jornalista como o homem do noticiário na TV. Mas eu vou
dar só “notícia boa”, não quero dar “notícia ruim”.
     Comovida  com  a  situação  daquela  família  e  encantada  com  Daniel,
Heloísa contratou Joana e conseguiu  matricular Daniel em uma das escolas na
qual era conselheira.
     Daniel  ia  pra  faculdade  de  Jornalismo  pela  manhã  e  à  tarde,  como
servente,  auxiliava o  pai  que começara a trabalhar como pedreiro. Extrovertido
e  divertido,  logo  fez  muitas  amizades  e  passou  a  frequentar  festinhas
organizadas por alguns. Não  demorou muito e Daniel começou  a fumar, ingerir
bebidas  alcóolicas,  chegava  em  casa,  agora  um  barracão  alugado  de  dois
cômodos,  frequentemente  embriagado  ou  trazido  inconsciente  por  seus
colegas de farra.
     Daniel se converteu, de aluno exemplar,  a desleixado e repetente. Seus
pais, inutilmente, se esforçavam  em conscientizá-lo  do caminho torto  pelo qual
direcionava sua vida.
     Sexta-feira  chegou  trazendo a expectativa daquela turma de colegas de
faculdade pois  organizaram uma festa de arromba em comemoração ao final
do  ano  letivo.  Contrataram  um  bufê  e  DJ,  bebida  farta  e  um  salão  de  festas
com enorme jardim e piscina.
     Daniel dançava animadamente e seu copo nunca permanecia vazio. Em
volta  de  sua  mesa,  inúmeras  bitucas  de  cigarros  formavam  um  amontoado
malcheiroso  e  as  baforadas  criavam  uma  espessa  nuvem  de  fumaça  ao  seu
redor.  Luzes  coloridas,  holofotes,  globo  refratário  e  estroboscópios
completavam a atmosfera festiva embalada por música eletrônica.
     - Venha comigo Daniel, quero lhe mostrar uma coisa – disse Alberto, seu
colega de faculdade.
     Eufórico, Daniel pulava e gesticulava, cantava, fumava e ingeria, de um
gole só, copos e mais copos de bebida, até que sua cabeça começou a girar e
sentou-se no sofá em um canto da sala. Do paraíso ao inferno, Daniel sentiu o
mundo  desabar à  sua  volta.  Seu  estômago  revirava  com  ânsias  de  vômito  e
uma forte dor abdominal se instalava competindo com o gosto amargo em sua
boca e sentia-se em um carrossel que girava cada vez mais  rápido. Trêmulo,
suas  pernas  não  o  obedeciam  e  não  conseguiu  ficar  de  pé  após  algumas
tentativas. 
     Socorro! – Implorava Daniel, num sussurro inaudível.
     Olha só o Daniel  –  comentou um colega que o avistou ao passar pela
sala – O maluco está curtindo de montão.
     Era pouco mais de 4:00 h. da manhã quando bateram à porta e Pedro foi
atender.
     - O senhor é o pai de Daniel? – perguntou um jovem, com voz aflita.
     - Sim! O que houve??
     -  Sou Fábio, colega do Daniel e ele não está passando bem. Estamos
numa festa da faculdade e ele está inconsciente.
     - Você pode me levar até lá? – Indagou Pedro.
     Uma lágrima rolou dos olhos de Pedro ao avistar Daniel estirado sobre a
poltrona,  olhos  esbugalhados,  boca  aberta  e  expelindo  uma  espuma
esbranquiçada pelo canto da boca. Seus colegas tentavam, em vão, reanimar
     Daniel, que alheio a tudo aquilo, já não tinha mais forças para reagir por si só.
     Pedro abraçou seu filho, tomou-o nos braços e apressou-se para levá-lo
até  o  hospital  mais  próximo  que  ficava  a  poucas  quadras  dali.  Sua  mãe
aguardava  lá  fora  e  não  conteve  o  choro  ao  ver  o  filho  naquela  situação  e
tampouco  deixou  de  reparar suas  narinas,  esbranquiçadas  por  um  pó fino,  e
em alguns lugares, misturado ao sangue que escorria pelas suas narinas.
     Aquela última descarga do desfibrilador quase tirou  o tronco de Daniel
da  maca.  Os  medicamentos,  a  massagem  cardíaca,  o  apoio  respiratório
mecânico, tudo parecia não surtir efeito nas tentativas incansáveis da equipe
médica,  que  de  olhos  fixos  e  brilhando  de  ansiedade,  observavam  os
batimentos  cardíacos,  pressão  arterial,  temperatura,  respiração,  oximetria  e
outros indicadores que traduziam a situação do inerte Daniel.
     -  Ele  voltou!!   -  Exclamou  o  médico,  enquanto  comemorava  com  sua
equipe o “bip” intermitente do monitor e o progressivo retorno dos indicadores
aos seus valores normais. – Conseguimos!
     Daniel  lentamente  abriu  os  olhos.  Não  se  recordava  com  detalhes  do
acontecido, mas se lembrava de ter ingerido muito álcool e cheirado cocaína.
     Lá fora, seus pais e irmãos aguardavam notícias.
     Movendo os olhos lentamente, pelo ambiente, viu um quadro com a foto
de uma enfermeira que com o dedo indicador diante da boca, sugeria o gesto
de pedir “Silêncio” e logo abaixo, uma frase no mesmo quadro, dizia: “Vá e não
     volte mais a pecar. Jesus”.
     Eram quase 15:00 h., horário de visitas na UTI, que lhe fora informado
pela enfermeira. Chovia naquela tarde, com relâmpagos e trovoadas  lá fora e
no coração de Daniel.

É SÃO JOÃO!


É São João!
É junho
É São João
É fogo que arde na fogueira e na alma
É quadrilha, quentão, pipoca e amendoim
Faz frio
Lá fora, sem agasalho, dorme João
Ele não é santo
É menino, é pobre, é órfão
“Pula a fogueira Iaiá, pula fogueira Iôiô”
João, que não é o santo, sente fome, sente frio
Olhos tristes, perdidos nas lembranças do abandono
Lá dentro há dança, aqui fora, dói seu estômago
No céu há São João, o santo
Sobre a calçada, tremendo, há o menino
Oh São João! tenha piedade
Dessa criança que, sozinho, chora

No anonimato.

VENTANIA (Autor: Riano)


VENTANIA

Tantas possibilidades tive
De fazer tudo, de ter tudo
De ir a todos os lugares
De comer todos os manjares
De estar em todos os ares,
Em todas as mulheres, todas as colheres, todos os tempos

Mas sou apenas parte
Daquilo que faz do nada uma arte
Da vida em um pedaço de origami
Que me dobra, amassa, transpassa minha mente até fazer-me eternamente
perdido !

Ainda que bem sucedido
No que se considera emprego
No que se julga negócio
Nas horas de um inocente ócio
Na beleza de minha família

Mesmo assim, questiono
E ainda que ache toda a verdade
O paraíso me gerará dúvida

Talvez isso mova os ciclos
Da chuva que permeia o solo
Do corpo que anseia colo
Do barro que teima em ser gente
Do que se mata para poder viver !

Autor: Riano

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Dia de finados


Ele chegou em casa às 20:00 mas nem quis acender as luzes. Preferiu abrir a cortina da sala de estar e deixar a luz natural daquele inicio de noite espalhar a penumbra pela sala escura. Pegou a garrafa de whisky no bar e serviu-se colocando duas doses e alguns cubos de gelo de água de coco.

Sentou-se numa poltrona no canto da sala e ligou o abajour. A tímida luminosidade era suficiente para que pudesse ler seus textos antigos e olhar seus álbuns de fotografias deixados pela sua mãe, que havia falecido há dois meses. Quanta saudade ele sentia de seu colo, seus afagos, seus mimos e carinhos. Sem dúvida alguma ele não foi um filho perfeito mas desde que seu pai falecera, era ele quem cuidava de todas as necessidades dela, desde a alimentação, medicamentos, consultas, internações. Não, certamente ele não foi o filho mais dedicado quanto deveria ser, mas, quem está do lado de fora, talvez o julgasse dessa maneira, porém não era fácil trabalhar o dia todo e encontrar tempo em sua semana escassa para levá-la ao médico e durante esse ano corrente, passar noites e dias nos hospitais para cuidar e servir-lhe de companhia em inúmeras internações.

Várias fotografias o arremessaram ao passado. Toda uma vida ao lado dela, excetuando-se os anos em que estivera fora, para trabalhos ou estudos. Aquele "boa sorte meu filho" que com todo amor ela dizia todas as noites antes de dormir. Algumas vezes o estresse do cotidiano nos leva a fazer coisas insensatas e das quais nos arrependemos em seguida. Ele se arrependia de várias situações, como das vezes que ele não atendia suas ligações porque já estava cansado, estressado com motivos diversos, mas também porque sabia que ela estava bem e queria apenas conversar, mas ele não estava sempre disposto a conversar. Pensem o que quiserem pensar, mas isso em momento algum diminuiu o amor que ele sentia por ela.

Ele levantou-se e foi até o piano, colocou o copo de lado e tocou, entre lágrimas, somewhere in time de um de seus compositores favoritos John Barry (https://www.youtube.com/watch?v=_6_5JLcii3A) e nota, cada acorde soava como uma gota de mel em suas lembranças. 

Ela partira um dia após ele tê-la visto pela última vez. Como disse Einstein, o tempo é relativo e embora essa conotação não se aplique aos estudos de Einstein, é notável que um dia em nossas vidas pode não fazer muita diferença durante toda ela, mas ele não pediria todo um dia ao lado dela uma vez mais... apenas um minuto... para que a na eternidade desses sessenta segundos, suas mãos pudessem se tocar, colar o rosto no rosto dela, beijar sua face, olhar em seus olhos e dizer: Obrigado mãe!

Ele levantou-se do piano, apagou o abajour e com a visão translúcida, repousou seu rosto no travesseiro com o pensamento em sua mãe. Talvez Deus, em sua misericórdia, permitisse que ele sonhasse com ela e pudesse vive, naquela noite, por momentos, aquela realidade de nossas almas, a doce convivência com ela.

Que Deus a tenha.


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Vai se lembrar sempre?

Ele: eu te amo! 
Vai lembrar-se sempre disso? - disse, olhando dentro de seus olhos doces e castanhos escuros, como dois caramelos perfeitos daqueles que só encontramos nas melhores lojas de doces da Áustria.

Era tarde de domingo e ele em alguns minutos voltaria pra casa. Aproveitava esses minutos finais, ao lado de sua amada, abraçado a ela com seu corpo e alma, fixando seus olhos castanhos em seus lábios doces e macios nos quais amava se perder em demorados e apaixonados beijos repletos de amor.

Era quase impossível evitar que seus olhos se tornassem úmidos na iminência de mais uma semana longe de quem jamais queria distanciar-se. Ele afagava seus cabelos enquanto ela repousava em seu peito. Sua respiração cortava em crescentes apneias e o peito sofria pontadas, como uma angina, causada pelo inescrupuloso relógio que não lhe poupava um minuto sequer.

Ele levantou-se, estendeu-lhe a mão e disse - venha comigo até a porta - passando antes pela cozinha para beber água e umedecer a garganta que,  seca, queria ordenar ao tempo que parasse ali mesmo.

Era muito difícil ultrapassar aquela porta e deixá-la. Caminhou lentamente até o portão, destrancou o cadeado mas voltou duas outras vezes para contemplá-la, abraçá-la e beijá-la antes de sair definitivamente caminhando com os olhos fixos na mulher amada até perdê-la de vista. 

Aquele ônibus partia pontualmente e a empresa de transportes orgulhava-se disso. Algumas centenas de quilômetros a percorrer até seu destino naquelas estradas não muito boas devido aos constantes temporais que outubro trazia consigo.

Embarcaram poucas pessoas e ele podia aproveitar o silêncio e a solidão para mergulhar em suas lembranças.

Ele era um romântico incorrigível que adorava deixar um bilhete de amor em algum lugar inusitado para que somente fosse encontrado depois que ele partisse. Adorava lhe surpreender e agradá-la com mimos, poesias, flores, enfim, tudo que estivesse ao alcance de sua imaginação e que pudesse fazê-la sorrir e sentir-se feliz. Amava cozinhar pra ela e vasculhava centenas de receitas para aprender e preparar somente pra ela . É fato que algumas não saíam como planejadas e alguns simples chips de abobrinhas viravam carvão. Mas ele recomeçava. Sim, defeitos ele tinha,  claro,  como qualquer pessoa,  mas não havia nenhum que ele não estivesse disposto a corrigir para que pudessem viver eternamente aquele grande amor. Não era tanto por ele, mas sim por ela, que era um modelo de virtudes, qualidades e ele confiava plenamente em seu amor e seu caráter.

Enquanto a verdejante paisagem desfilava pela janela de um lado, o  entardecer dourava o horizonte no lado oposto. Nuvens carregadas anunciavam fortes chuvas e sombreavam aquelas planícies de abundante clorofila e raras árvores nativas do cerrado.

As primeiras gotas de chuva deslizavam pelo vidro da janela assemelhando-se às lágrimas da contundente saudade que dilacerava-lhe o peito. As copas das árvores dançavam segundo o vento orquestrava e do ocaso dourado, restava agora apenas nuvens alaranjadas e sombrias.

Sim, eles tinham planos, inúmeros, como todo casal de namorados e ele recordava cada um deles, ensaiando um sorriso em seus lábios que, até então, fora dominado pela melancolia da distância de sua amada. Mas se dependesse somente dele, não restaria nenhum por realizar e ele a faria sentir-se a mulher mais amada que pudesse existir. Sim, porque felicidade é um estado e não uma condição e cada um depende somente de si só para sentir-se feliz mas ele podia adicionar momentos felizes à vida dela e assim, ficaria feliz também por sua vez pois sua felicidade dependia de vê-la feliz.

Sim, ele pretendia casar-se, ter filhos, aguardar ao lado dela que o Criador lhe ceifasse a vida segurando sua mão e se perdendo, já bem velhinho, naqueles olhos castanhos de caramelos.

A chuva se intensificou e da paisagem, agora, só se destacavam silhuetas que passavam céleres pela janela.

Uma curva fechada, o asfalto molhado, um barulho intenso de metal retorcendo, vidros estilhaçando, um impacto forte em sua cabeça. O gosto amargo do sangue em sua boca, gritos de alguns passageiros, bagagens voando pelo corredor e ele não conseguia distinguir onde estava o céu e onde estava a terra naqueles constantes giros que, como marionette, arremessava  seu corpo de um lado a outro até que finalmente cessou e o silêncio invadiu aquele asfalto molhado que lhe servia agora de travesseiro.

Ele mal conseguia levantar o braço mas com muito esforço conseguiu retirar o celular do bolso e trazê-lo com dificuldade até diante de seus olhos, abriu a galeria de imagens e contemplou  com uma tentativa de sorriso nos lábios e dentes carmim, as fotos de seus filhos, de seus pais, dos filhos dela e finalmente as fotos que havia tirado junto a ela, pois ele adorava fotografá-los para ficar contemplando todas as noites até que o sono chegasse e no dia seguinte acordava e começava seu dia da mesma maneira decorando aquelas fotos.

Ele já não conseguia mais manter seus olhos abertos. Sentia frio e seu corpo tremia como se estivesse sob dezena de graus negativos.

Lembrou-se da última noite, dos últimos abraços, dos últimos beijos e do quanto a amava.

E suspirou pela última vez.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Ela é assim...



...e havia uma música no ar, que não a definia... não... de maneira alguma, pois era apenas uma melodia bonita, incomparável a ela. Mas enfim, a música é essa ( https://www.youtube.com/watch?v=LkUdJTLOF1E ).

     Não lhe direi quem é, apenas vou descrevê-la para que você a conheça, sem no entanto conhecê-la... e já lhe adianto: não é apenas idealização.

Ela é assim, como a flor de algodão
que de cor marfim encheu meu coração
em seus olhos ela tem o brilho de milhares de estrelas brilhantes
que abraçaram o brilho dos meus, como jamais sentira antes.

Ela é o néctar, em meus lábios, cristalizado
é a companhia perfeita que quero sempre ao meu lado
é o azul do céu quando a tempestade se vai
é a saudade em meu peito, que nunca sai.

Ela é o vento quando as brancas areias sopram
e sua voz o encanto das sereias quando cantam
ela é a imensidão do universo sem fim
e a grandeza do amor que despertou em mim.

Ela é linda de beleza imensurável
e meu amor mais doce e agradável
é ninho de pássaro em pleno verão
é sabor de fruta doce com creme de avelã.

Hoje não sou mais eu,
tampouco não é mais ela.
Hoje somos nós, 
pintando o amor em aquarela.

Hoje estou extremamente feliz,
ao lado da mulher que sempre quis
é ela quem me completa totalmente
e sabe o valor do que a gente sente.

O amanhã a Deus pertence sim,
mas ele a trouxe de presente para mim
para que pudéssemos viver nossa felicidade
nos amando como amamos, por toda a eternidade.

LL

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Nem por um minuto

Às vezes me confundo olhando meu interior.
Ora me vejo em meio à uma multidão de mim,
ora sozinho comigo mesmo.
Sou do tipo que não me contento
com metades ou partes.
Sou do tipo tudo ou nada.
Pois não se faz nada pela metade.
Não se vive,
não se ama,
não se dorme,
não se sonha.
Sou estranho, mas só na aparência,
sou triste, mas só nos olhos,
sou alegre, mas só nos lábios,
sou canção que não escuto
sou feliz a vida inteira,
nunca triste por um minuto.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Arquimedes, o adolescente e o revólver.

Meu avô dizia: "Escrever livros não dá dinheiro, meu neto. O melhor é você pegar no cabo da enxada e largar esse lápis.". Claro que discordo do meu avô, embora afirmo que os escritores (e outros tipos de artistas) recebem muito pouco em troca de suas valiosíssimas obras.

Vejam só, a Grécia, berço da democracia, cambaleando moribunda à beira de um abismo financeiro. Democratas e socialistas digladiando para definir a soberania de seus ideais, "leiloam" as ruínas gregas na esperança de que apareça um Arquimedes mergulhado em uma banheira exclamando "Eureka!" e colocando termo à crise financeira. A Alemanha ainda não explicou aos compatriotas como vai participar desse "Holocausto financeiro" ou quais suas bondosas intenções. Berço de tantos filósofos e cientistas políticos, sucumbe à armadilha da comunidade Europeia e aos caprichos do Euro.

Aqui na "Terra Brasilis" discute-se a possibilidade de enviar "Joãozinho" e "Mariazinha" para a prisão antes da idade até então estabelecida por lei. A redução da maioridade penal viria justificar uma punição mais severa àqueles menores que dançam e sapateiam, zombando, diante dos distritos policiais o carnaval de impunidade aos crimes cometidos e infelizmente "amparados" pela impossibilidade de serem enviados à prisão ou seria uma "injustiça social" praticada contra alguns jovens que não frequentaram a escola e não nasceram em berço esplêndido? No entanto "Pedrinho" também é menor, filho de pais muito pobres, sem recursos financeiros, sem videogames, sem roupas de grife, etc., e a lei da maioridade penal não o afetará em absolutamente nada, haja vista que frequenta a escola, estuda e não trilha o caminho da marginalidade.

Em Atenas e toda a Grécia a população está refém de uma moeda forte que exige lastros financeiros firmes e um PIB suficientemente grande para suportá-la. Aqui em "Terra Brasilis" o cidadão clama por andar armado, reivindicando a possibilidade de portar uma arma para se defender quando necessário e que as mesmas não sejam privilégio dos bandidos que há tempos não respeitam muros, cercas elétricas, abordam cidadãos em seus veículos e nas ruas em plena luz do dia, pois sabem que não encontrarão resistência porque somente eles, bandidos, estão armados. 

O Brasil já está de "mãos ao alto" diante da criminalidade, inflação, corrupção e da falta de decoro dos nossos dirigentes políticos. Não temos “Euro$” mas o precipício diante de nós não é menor. Se o Minotauro é a esperança da Grécia, por aqui, só o Cristo Redentor pode nos salvar.



AS ROSAS DE JULIENNE
            Era uma manhã de outono e faltavam poucas horas até alcançar seu destino. Pela janela do trem, passava rapidamente toda aquela paisagem deslumbrante das regiões montanhosas próximas a Laville, uma cidade esquecida pelo progresso mas lembrada em detalhes pelo Criador. As encostas montanhosas, cobertas pela vegetação abundante e os diversos riachos que corriam em silencio desviando-se dos coloridos seixos, formavam um mosaico inesquecível e aconchegante de toda aquela paisagem que uma vez ou outra abrigava um chalé com chaminés fumegantes e acolhedor.
Oscar era um homem alto, cabelos um pouco grisalhos, ondulados, olhos castanhos escuros, um tipo caucasiano de feições austeras, corpo atlético e olhar indiferente. Absorto, trazia o arrependimento no peito, que feria como lâmina afiada, atormentando-o dia e noite.
Julienne, de olhos castanhos claros, cabelos longos e negros à altura da cintura, franja “Cleópatra”, lábios carnudos perfeitos, que emolduravam uma linda boca em formato de coração, nariz delgado, pescoço longilíneo, cintura e mãos finas, quadris largos, pernas torneadas e pés delicados, estatura mediana, voz doce, melodiosa e quase sempre calma e em baixo tom.
Oscar a conhecera durante uma viagem de férias ao Caribe, há vinte anos. Lembrou-se perfeitamente daquele momento em que a viu passar pela praia, vestindo um maiô azul marinho, canga azul claro, chapéu de abas largas, caminhando lentamente enquanto as ondas lambiam seus pés e o vento esvoaçava seus finos cabelos de ébano. Oscar, quase hipnotizado, não hesitou em abordá-la quando a viu parar numa barraca de água de coco. Gentilmente postou-se a seu lado, cumprimentou-a cordialmente e animou-se ainda mais quando não percebeu nenhuma aliança ou anel de compromisso em suas mãos. Desculpou-se pela súbita abordagem e ofereceu-lhe um drink. Iniciaram uma animada conversa e não demorou muito para que Julienne se rendesse aos seus charmes e se encantasse com seus dotes culturais. A tarde passou ligeira e decidiram marcar um encontro para aquela noite, haja vista que Julienne estava hospedada em um hotel bem próximo ao de Oscar.
Minutos antes da hora marcada, Oscar a aguardava no salão do hotel em que Julienne se hospedara. Uma vez mais o coração de Oscar parecia saltar fora do peito quando a viu se aproximar. Salto alto, vestido longo, preto, com abertura lateral até a altura de suas coxas, generoso decote em forma de “V” que evidenciava ainda mais seus seios médios e firmes. Seus cabelos soltos, desciam harmoniosamente sobre os ombros e roçavam sua alva, perfumada e macia pele à medida que avançava em sua direção.
Um solavanco do trem mudou o rumo dos pensamentos de Oscar trazendo-o de volta à realidade. Já estava quase na hora de revê-la. Julienne mudou-se para Laville dois anos após separar-se de Oscar. Estiveram casados por mais de 15 anos e há dois Julienne resolveu separar-se. Foi um casamento perfeito em seus primeiros anos. Oscar, desde o início mostrava-se marido apaixonado, cuidadoso e dedicado. Julienne tinha seus sonhos e um deles, o qual realizou, era cursar uma faculdade e formar-se em Psicologia. A princípio Oscar não se importou, mas foi mudando sua maneira de pensar e agir à medida que Julienne ocupava mais o seu tempo com as atividades acadêmicas. Oscar já não via com bons olhos os colegas de faculdade de sua esposa, principalmente aqueles mais jovens e do sexo masculino. Seu ciúme tornou-se doentio e sua opinião soberana. Seu desequilíbrio chegou ao extremo quando num dia chuvoso Julienne voltara mais cedo pra casa e resolvera aceitar uma carona de um colega de classe. Oscar a observava pela janela, quando desceu do carro e entrou às pressas em casa. Julienne sentiu o mundo girar quando aquele tapa a acertou violentamente o rosto, acompanhado de palavras de baixo calão, acusações infundadas e um forte empurrão que arremessou-a ao chão.
Incrédula, Julienne ainda sentia o gosto do sangue em sua boca e contemplava Oscar completamente desfigurado pelo ódio. Como pode o homem que lhe faz juras de amor, compartilha sua cama, suas intimidades, que deveria ser seu porto seguro, seu amparo, incentivo e protetor, agir daquela maneira? Em que lugar do passado aquele cavalheiro que a encantara naquela noite em que foi busca-la no hotel se perdeu? Era inaceitável tal conduta.
O gosto amargo de suas lembranças, juntamente com o anuncio de que em alguns minutos o trem chegaria a seu destino causou náuseas em Oscar, que, após a decisão do juiz, que decretou o divórcio litigioso, entregou-se ao alcoolismo e dedicou suas noites às tentativas infrutíferas de reaproximar-se de Julienne e obter o seu perdão. Julienne o amava e por inúmeras vezes ponderava conceder-lhe uma segunda chance, mas Oscar, mesmo em suas investidas aparentemente arrependidas, repetia as agressões verbais nos momentos em que Julienne o aconselhava a ir para casa repousar e recuperar-se de sua embriaguez.
Desde que se separou de Oscar, Julienne foi morar em Laville, atraída pelas oportunidades de trabalho como psicóloga e pelos encantos naturais daquela cidade. Oscar durante um tempo a procurou insistentemente mas ao perceber que Julienne estava irredutível em sua decisão de não aceitá-lo de volta à sua vida, resolveu se afastar. Nunca deixou de amá-la. Nunca deixou de pensar em Julienne todas as noites de sua vida. Nunca compreendera, até então, o significado da palavra “arrependimento”. Julienne jamais fora infiel com Oscar, sequer em pensamentos, mas a mente doentia dele, impulsionada pelo sentimento de ciúme e posse o atirara ao fundo do poço do remorso.
Oscar pegou sua mala, enxugou os olhos e desceu lentamente do trem. Acenou para um taxi e à medida que percorria aquelas ruas em direção a seu encontro com Julienne, recordava os lugares nos quais passearam de mãos dadas, o banco da praça no qual se beijaram, a sorveteria, o cinema, aquele restaurante que por tantas vezes lhes serviram vinho e músicas românticas para que dançassem de rostos colados. Mas a razão de seu viver já não fazia parte de seu cotidiano. Foram tantos planos feitos juntos e todos desfeitos pela precipitação, falta de respeito e pela enfermidade da desconfiança.
Oscar parou diante da entrada, ajeitou seu paletó, deixou a mala do lado de fora. Nas mãos conduzia um buquê de rosas e um bilhete escrito de próprio punho. Parou diante de Julienne, pálido, prendendo a respiração numa apnéia que pareceu-lhe durar uma eternidade. Contemplou aquele rosto lindo que o hipnotizara nas praias Caribenhas, as mãos suaves de dedos longos e finos, aqueles lábios desenhados cuidadosamente pelas mãos Divinas, cerrou os olhos e entregou-se ao pranto.
Julienne há pouco mais de três meses constatou um Linfoma já em metástase, o qual não conseguia vencer pela quimioterapia. Enviou um e-mail a Oscar contando-lhe da enfermidade e de seus receios de que não tornasse a vê-lo.
Oscar debruçou-se sobre o corpo frio e inerte de Julienne, depositou o buquê de flores sobre seu caixão e pediu-lhe perdão, beijando suas mãos.
Lá fora começara a chover. O vento forte que espalhava as folhas do Bordo soprava uma triste e silenciosa melodia pelas janelas daquele salão onde acontecia o velório de Julienne e começaria o inferno no coração de Oscar.


SINUOSIDADES

SINUOSIDADES
O
AMOR,
quando CHEGA de mansinho,
                                   vem TRAZENDO, passarinho,
                                               novas CORES aos corações
                                   DISSIPANDO as ilusões,
rompendo as TREVAS da solidão
vem DIZENDO a todo o mundo
            QUE não há sequer um segundo
                        que eu possa viver SEM pensar
                                   em VOCÊ.
                                   pois A felicidade que sinto e
 que tenho na VIDA
NÃO se compara, querida,
            e nem  TEM  a menor

GRAÇA.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Monocromatico


Um dia Paulinne acordou, abriu a janela, e percebeu que tudo estava escuro lá fora embora o relógio já marcasse oito horas de uma manhã que deveria estar ensolarada. O mundo estava em preto e branco, numa monocromia que afetava os olhos e os sentidos. As árvores, que Paulinne normalmente mal observava estavam secas, o jardim com todas as flores que Paulinne raramente regava, estava repleto de flores murchas e cinzentas, o gramado se assemelhava a um tapete cinzento, os pássaros, mudos, não perturbavam mais Paulinne com seu canto todas as manhãs, as uvas na videira estavam pardas e a água que corria num córrego próximo à sua janela, secara. 

Paulinne viu seu dia diferente, nublado, despojado de tudo aquilo que a natureza diariamente oferecia e ela não dava o devido valor. O Sol parecia uma esfera negra, a lua não mais era visível pois o sol que a ilumina e a torna tão bela, já não a acariciava com seus raios brilhantes. Já não havia mais perfume no ar, pois tudo era insólito e triste.

Pauline olhou o horizonte tentando divisar alguma coisa além de uma cortina cinzenta e carregada mas não conseguia enxergar nada. Tudo que era belo, perfumado, colorido, brilhante, audível, movimentado, de repente parou.

Paulinne não conteve as lágrimas que rolaram pela sua face e voltou a dormir, refletindo sobre tudo que lhe era dado, ofertado e Paulinne não sabia dar valor ou enxergar a grandeza que há por trás dos pequenos atos, das pequenas belezas, do mínimo gesto, do carinho, da dedicação de cada elemento que sempre coloriu seu dia, enchia-o de perfume, cores, sons e amores.

Paulinne adormeceu.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Dente-de-leão

...Ele sentou-se à beira daquela rocha e com seus olhos cansados, perdidos, contemplou todo aquele vale que se estendia até onde a terra se encontrava com o céu. Escalou os 5 mil metros daquela montanha (que não era a maior, mas como desafio, para ele, era). Em seus olhos podiamos ler o entardecer, velando a cor-de-mel em um castanho escuro, refletindo a parca luz dourada do astro rei que já se debruçara por detrás da linha do horizonte, deixando à mostra somente sua luminosidade que transformara aquele céu azul em um teto alaranjado com rajadas vermelhas, anunciando uma noite fria que viria a seguir.

O caminho de subida não fora fácil com todos os pedregulhos, trilhas íngremes, vegetação fechada, espinhos lhe ferindo a carne, cortando sua pele até sangrar, os pés cansados e maltratados pela trilha rústica e repleta de pedregulhos que vez ou outra o faziam escorregar e tropeçar, sobrecarregando as articulações do joelho e por vezes tendo que se apoiar para não cair devido ao peso de seus apetrechos de escalada. Mas à medida que subia, seu pensamento se concentrava na paisagem à sua volta. A vegetaçã de árvores altas e frondosas, espalhavam o verde e deixavam passar por entre suas folhas os insistentes raios de sol que as alimentavam e alcançavam as menores e rasteiras vegetações que não conseguiam se erguer até as nuvens para que banhassem naquele calor aconchegante e dourado.

     Ali sentado, consigo, não entendia o porque de muitas coisas... nem poderia, afinal a vida é para ser vivida, não compreendida. As nuvens, tocadas pelo vento, vagavam ao sabor do mesmo, não sabendo onde iriam parar (ou se iriam), afinal, destinos são onde desejamos ir e não outro lugar, pois é nosso coração quem nos impulsiona e dita nosso rumo, soprem ventos ou não.

     A noite começava a transformá-lo em silhueta, ali, sentado à beira daquele abismo, com as pernas penduradas no vazio, que agora já não permitia mais diferenciar quase nada além do breu desolador e ao mesmo tempo encantador com o tapete de estrelas que já começa a se formar, permitidas pelo ocaso que comprimia seu peito. 

     Colheu um dente-de-leão que estava ao seu lado, estendeu-o em direção ao vazio e soprou... sentiu-se um Deus naquele momento, determinando quem fica, quem vai, dando destino a cada uma daquelas plumas que soprara rumo ao desconhecido. Da mesma maneira, atirou uma pedra no vazio, mudando todo o destino daquela pedra. Era para ela ficar ali mesmo ao seu lado ou para que cumprisse seus dias de pedra lá embaixo? ele não sabia, mas atirou assim mesmo. Era sua vontade, afinal. Não importava o que a pedra quisesse (ou sentisse, se pedras sentissem... ou quisessem) pois lá embaixo, julgava ele, ela teria outra vida(?) diferente daquela ali em cima, que já estava vivendo e aos seus olhos, ela não parecia uma pedra muito feliz, então só há uma alternativa (e ele aprendera isso com muitos sofrimentos na vida) para que pudesse ser feliz... fazendo as coisas diferentes do que já fizera até então. Só obtemos resultados diferentes se fizermos (e tentarmos) as coisas de maneira diferente, senão obteremos sempre os mesmos resultados e aquela pedra, definitivamente, já tivera sua vez e sua oportunidade (e não rendeu frutos).

     Engoliu seco, cerrou os olhos numa tentativa insólita de enxergar algo adiante ou à sua volta, mas nada. Apoiou-se no antebraço, erguendo levemente seu corpo no ar, projetou-se um pouco adiante e se perdeu na escuridão do nada.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Anne

ouça enquanto lê:

https://www.youtube.com/watch?v=l_nqghgL3Ls

     Anne é uma jovem mulher de olhos penetrantes e brilho suave e juvenil, corpo atlético esculpido pela prática de esportes, academia e muito suor em seus treinos diários que chegavam a durar horas, cabelos curtos, voz com um timbre particular, daquelas que passamos horas e não nos cansamos de ouvir.
     Anne era muito bonita, inteligente, culta, doce, extremamente gentil, educada e certamente como todos, possuía defeitos, mas esses estavam muito bem ocultos pois não conseguiríamos enxergar nenhum na convivência diária.
     Mãe e esposa dedicada, Anne era uma tempestade arrebatadora, casada com uma pessoa com características opostas às suas. Todo inicio de relacionamento é perfeito, mesmo que os casais tenham personalidades (temos várias segundo Jung) antagônicas. Mas o tempo (sempre ele) veio mostrar que não é bem assim que deveria ser para que seja duradouro.
     Anne é o doce e indomável vento do outono que açoita e arrebata as folhas do Bordo, dourando a paisagem e desnudando as árvores de suas folhas secas. 
     Anne é o mar revolto em ondas que sobem com seus tentáculos na tentativa de tocar o céu e banhar as estrelas em infindáveis tempestades noturnas.
     Anne é o sol que doura a pele e aquece a alma de quem a cerca, bastando para isso estampar um sorriso em seu lindo rosto expondo a boca perfeita de lábios delgados e contornos sugestivos.
     Anne é o terremoto que sacode a terra onde correm os pés que caminharam por anos ao lado de seu companheiro, esperando que seu casamento fosse para sempre e aguardando a cada dia que todo seu carinho, amor e dedicação fosse (como deveria ser) completamente retribuído com a mesma verdade e intensidade com que dedicava o seu a ele. 
     Anne gosta de passear, viajar, correr livre pelos campos, acampar, saltar de pára-quedas, base jump, nadar, caminhar, pedalar, deitar-se na grama à beira de um lago e não pensar em nada, mas sentir que em nenhum desses momentos estaria sozinha, mas sim acompanhada daquele que escolhera exatamente para compartilhar tudo isso que a deixava feliz.
     Anne é MPB, mas principalmente era Rock n Roll de Satriani, Slash, Pearl Jam, Metallica e todas essas bandas cheias de energia que embalavam seus dias até o momento em que devorava seus livros (Anne adora ler) perdendo-se em histórias e mergulhando nas páginas das fantasias de Saint Exupéry ou na Psicanálise de Freud.
     Anne é mulher de unhas bem cuidadas, vermelho Rubi e batom rosa bebê e estatura suficiente para chamar a atenção (como se precisasse) quando desfila de salto alto com sua ginga que causa torciolos e discórdias entre os casais pelo simples fato de passar diante deles.
     Mas Anne não é feliz como deseja (e deveria) ser. 
     O tempo tem mostrado que seu casamento não durou o suficiente para que fossem "felizes para sempre" e a "solidão a dois" (como cantava Lobão) começa a incomodar como a pior de todas. As noites já não são mais à luz de velas, nem os jantares são preparados com o carinho que deveria. O cobertor e travesseiros já nem sempre são jogados ao chão e muito raramente as roupas ficam jogadas ao chão no trajeto da sala ao quarto de dormir, deixando rastros de pulseiras, colares e, nas taças, marcas de batom.
     Anne vive um casamento que há muito já deixou de sê-lo. Resta Anne descobrir (e descobrirá) que a amizade entre eles continuará, mas a jornada do dueto "marido-mulher" já se encerrou e que ela deveria encontrar uma alma com a mesma sintonia que a dela, com os mesmos gostos e que venha polir sua vida de cristal como deve ser polida, agregando brilho e amor à sua. 
     Anne descobrirá que não é fácil romper um relacionamento que durou anos mas que chegou ao fim e quando algo termina, seja em qualquer sentido, acabou. Restam fragmentos bons, claro, as lembranças que ficarão, mas que não a sufoquem, como frustração, de como deveria ser.
     Anne entenderá que conta com família, amigos e outras pessoas que ajudarão a superar essa fase difícil e complicada mas necessária quando a rotina, o tempo e a falta de valor do companheiro sepultaram o que poderia ter florescido.
     Anne é uma mulher independente, autossuficiente e competente materialmente falando. Não depende hoje e não dependerá amanhã de ninguém para seu sustento. Anne saberá educar seus filhos, afinal, não se separam pai e mãe, apenas marido e mulher. 
     Anne é a poesia da lagarta em mutação para renascer borboleta.
     Anne é a gota de orvalho que percorre a folha e acaricia a pétala com seu frescor.
     Anne é o arco-íris que pinta nossas vidas numa aquarela.
     Anne é o doce, o amargo, a luz e a escuridão. 
     Anne é paixão.
     Anne descobrirá com o passar dos dias que a época de Helena de Tróia não deve existir nos dias de hoje e que não se prenda a "Menelau" pois há muitos sorrisos e alegrias que a aguardam em dias ensolarados, outros nublados, mas o sol estará ali. Dias de leitura a dois, de cócegas e gargalhadas, de pedalar a dois (na verdade mais que dois, pois Anne tem filhos), de viajar e esquecer de voltar, lambuzar os lábios de sorvete, dormir agarradinha, dançar e pular ao som do melhor Rock n Roll, assistir abraçadinha ao show de sua banda preferida, assar marshmellow numa fogueira no camping, gritar com os pernilongos dentro da barraca, tomar banho de cachoeira, jantar à luz de velas, tomar café na padaria do bairro, comer pastel de feira e macarrão preparado só para ela, ouvir musica bem alto, dançar sem ter motivo e cantarolar sem saber a letra, apenas por estar feliz.
     Anne descobrirá que a vida não acaba ao final de um relacionamento... pelo contrário... quando não há plenitude no que está vivendo, ao final do mais ou menos (inadmissível em todos os aspectos viver algo mais ou menos), caberá a ela, somente ela, descobrir a si própria em sua nova vida e alçar novos vôos, pois Anne nasceu para ser estrela do firmamento e não do mar, para viver de grãos de areia de sentimentos.
     E chegará o dia em que Anne acordará ao lado de um novo amor e em lugar de simplesmente se levantar, cedinho, da cama, voltará a abraçá-lo e adormecer com um sorriso nos lábios, marcas de unhas na pele, lingerie espalhada pelo chão, sobras de vinho na garrafa, paz na alma, brilho nos olhos, felicidade no coração, filhos dormindo no quarto ao lado e uma nova vida pra viver... e que dure enquanto existir amor (acredito que seja por muitas décadas), pois certamente Anne escolherá por companheiro um homem que saiba apreciar e compartilhar cada minuto ao lado dessa joia lapidada e de valor inestimável.
     A vida, Anne... apenas começou.
     Brindemos a ela.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Xeque Mate

( https://www.youtube.com/watch?v=LDsr4etJlwc )
     O sol ainda se debruçava sobre as colinas de Garden Hills quando Laura acordara e seus olhos preguiçosamente recusavam despertar. Caminhou cambaleante em direção ao banheiro, abriu a torneira para encher a banheira, espalhou os sais de banho, foi até a cozinha, ligou a máquina de café e a máquina de waffle. Voltou ao banheiro, prendeu os cabelos dourados e mergulhou vagarosamente na água morna já coberta de espumas.

     Era final de tarde de sexta-feira, as pessoas deixavam seus trabalhos e se encontravam para o happy hour. Laura marcara com Phill em um pub que gostavam de frequentar, onde tocavam os blues que adorava ouvir e preparavam o melhor bloody mary que já provara. Há cinco anos conhecera Phill num show de Garth Brookes em Fort Worth, Texas. Não demorou muitas semanas para que se apaixonasse por aquele homem carinhoso, cavalheiro e atencioso. Laura é Brasileira e passava férias na casa de alguns amigos no Texas. Phill é Canadense e fora até o Texas apenas para ver o show. Após alguns meses de namoro e diante da insistência de Phill, Laura mudou-se para o Canadá e passaram a viver juntos.

     Os dois primeiros anos foram maravilhosos e harmoniosos, até que Laura resolvera retormar os estudos e trabalhar. Naturalmente Laura fizera amigos no trabalho, faculdade e recebia convites para festas, eventos, passeios e shows. Phill não se importava desde que pudesse acompanhá-la mas quando não era possível, Laura participava de alguns eventos sozinha. Laura sempre foi leal ao relacionamento com Phill e em momento algum suas condutas contrariavam sua condição de mulher comprometida em um relacionamento. 

     Phill começara a ficar incomodado e sentir ciumes das amizades de Laura. Questionava sempre onde estava, com quem estava. Começou a bisbilhotar seus e-mails, correspondência, faturas do cartão de crédito, monitorar os horários de Laura, vasculhar seu celular e interferir na sua privacidade. A doçura cedia lugar, diariamente, a questionários intermináveis e interrogatórios injustificados acerca de sua integridade moral.

     O jardim do Éden virou purgatório para Laura e decidiram, após quatro anos de convivência, encerrar o relacionamento. Ao ter consciência de sua perda, Phill tentou se desculpar, prometeu mudar o comportamento, mas promessas da boca pra fora não funcionam se não houver mudanças interiores de atitudes. Após alguns meses de insistência, Laura cedeu e deu outra chance a Phill, mas não durou dois meses para que o descontrole emocional de Phill recomeçasse. 
   
     Laura não suportava mais. Voltou definitivamente para o Brasil. Confiança é imperativo mas ser colocada à prova sem fundamento é desrespeito. Um dia as pessoas compreenderão que amar alguém é uma escolha e que amor não é um sentimento que brota e permanece mas sim uma chama que alimentada corretamente se mantém viva e quente. Há homens ciumentos e mulheres ciumentas. Em todos os casos não são os ciúmes que incomodam, mas a falta de auto-confiança e autoestima que dominam o outro. 

     Um ano depois de voltar definitivamente ao Brasil e não obstante as incontáveis negativas de Laura diante da insistência de Phill em reatar, Laura recebe um telefonema de Phill dizendo que estava no aeroporto e queria encontrá-la. 

     Laura levantou-se da banheira, enxugou-se, penteou os longos cabelos dourados à altura da cintura, olhou-se no espelho e por instantes contemplou aquela mulher de olhar determinado, olhos castanhos brilhantes, seguros de si, respirou fundo e foi encontrar-se com Phill para lhe dizer que durante todo o tempo em que estiveram juntos ela sempre foi honesta e leal ao relacionamento e que embora ele não acreditasse, infelizmente não era a maneira como ELE a enxergava que determinava quem ela realmente era, mas suas atitudes e condutas sempre corretas em relação a ele e a honestidade de seus sentimentos que ele não conseguira enxergar. 

     Laura calçou suas sandálias de salto alto, e saiu para encontrar-se com Phill unica e exclusivamente para dizer a ele que... Não, Phill... infelizmente as oportunidades lhe foram dadas e se em todo esse tempo você não soube valorizá-las deixe-as para outro que as mereçam. 

     Seu tempo e oportunidades junto a Laura, Phill, acabam aqui.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Se você tem medo...

...de olhar em meus olhos e se enxergar dentro deles envolvida com ternura e doçura
...de sentir-se frágil, desamparada e encontrar meu abraço e minha presença sempre que precisar
...de sair à noite para jantarmos à luz de velas ou dançar e sorrir à toa
...de ficar em casa num sábado à noite saboreando um vinho enquanto preparo nosso jantar
...de se aninhar em meu colo sob o edredom no sofá da sala para ver um filme enquanto afago teus cabelos 
...de viajar aos finais de semana para qualquer lugar pois não importa onde quer que eu vá desde que você esteja comigo
...de sentir-se triste pois eu secaria tuas lágrimas com meus beijos e ouviria silenciosamente teus soluços
...de pular em meus braços e me abraçar apertado quando eu bater à sua porta tarde da noite só pra dizer que estou com saudade
...de fazer caretas só porque não gostou do prato que preparei para nosso café da manhã e mesmo assim darmos risadas
...de contar seus problemas e juntos buscarmos uma solução para cada um deles
...de ver o dia amanhecer após nos amarmos a noite toda e ainda assim desejar que o dia passe lentamente para aproveitarmos ainda mais um ao outro
...de receber flores e beijos
...de dedicar um pouco de seu tempo, seja numa mensagem, num bilhete ou numa ligação
...de me ligar no meio da noite quando perder o sono
...de dormir em meu colo num preguiçoso final de domingo
...de sentir-se muito amada, protegida e desejada

...de sentir e viver tudo isso... 

...então você não merece o meu amor...

...procure outra pessoa, que a deixe em segundo, ou quem sabe até terceiro plano e não lhe dará mais, com o passar do tempo, do que a solidão de um dia de feriado em casa sem nada pra fazer.

...pois eu não sou o homem certo pra você.